quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Fragmentos sobre luzes e bancos de praças

  De alguma forma minha cabeça não via nada que eu pudesse fazer além de passar meu tempo em uma praça. Ficava toda a duração da luz do dia sentada, desenhando rostos alheios e principalmente sorrisos que eu gostaria que fossem meus. Quase todos os dias eu conseguia desenhar diversas gerações e tipos de gente. Não entendia o objetivo daquilo mas naquela situação qualquer ação rotineira seria válida e explicações seriam vagas.
  Com o passar das horas, eu empilhava meus desenhos e rezava para o ventor não levassem-os embora de mim. Quando a luz partisse eles me seriam úteis: quem me anima? que iria ver o sorriso de quem? - Os meus desenhos, é claro.
  Algumas lágrimas escorriam no meu rosto, com o objetivo de esvaziar meu vazio para dar mais espaço para outros "vazios" e vire e mexe alguém de preocupava com meu choro.
  - Minha filha, pra que tanta tristeza? - Perguntou um senhor grisalho e exótico, um tipo de pessoa que não desenharia.
  - Sabe, às vezes... às vezes temos só papel na vida. - Respondi
  - Então pegue esses papéis e escreva sua história, invente e viva!
  Ele levantou e sumiu no meio de outras pessoas que pouco se importavam com o que se passava naquela praça. Eu queria ao menos saber o nome daquele senhor e o endereço, assim usaria alguns de meus papéis para escrever uma carta, dizendo o quanto já inventei histórias para mim, o quanto já tentei viver e nada adiantou, e iria agradecer no final do texto por ele ter sido a única pessoa que falou comigo naquele dia (e quiçá se importou comigo).
  A luz do dia estava indo embora e eu sabia de duas coisas: ela voltaria no dia seguinte, em menos de doze horas e eu também estarei ali, com meu coração apertado e uma angústia descontrolada novamente. Não queria voltar para aquele banco e muito menos para o banco do lado, não queria mais ter que desenhar ninguém. Durante a semi escuridão, os sorrisos eram trocados por caras frustadas e perturbadas, não gostava de ficar ali, era como uma forma de competição e concorrência para mim.
  Voltei para casa.
  Eu sabia que voltaria porém fazia tempo que eu procurava sorrisos parecidos com o seu. Não adiantava procurar... Você está em um canto de uma cidade qualquer, sorrindo por alguma coisa não qualquer. A infeliz era eu.
  Peguei algumas folhas de papel, escrevi uma carta para ninguém, talvez. Contei a história que mais me afligia no mundo, tomei uns remédios e fui dormir.
  Não voltei para a praça no dia seguinte.

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